Algo Vem!

Sinto cheiro de pão recém assado,
vindo do fogão a lenha,
lá afora.

Saio,
sinto outro cheiro,
um cheiro bom e refrescante nestas noites mornas,
cheiro de mar,
~preciso ver o mar numa noite dessas~

Olho o céu,
as nuvens estão me olhando estranhas no momento,
belas,
em um céu pedrento misto a um mural negro,
algo virá.

Na vira do pão,
manobrando assar ambos os lados,
me queimo no metal quente, que suporta as dores do pão.

Ele revida em mim seu castigo de existência.

Atiço a brasa,
deixo borca a lenha,
e novos estalidos surgem do rubro,
e flameja num átimo.

No retorno ao meu ermo,
olho o céu novamente,
e solto propositadamente,
todo o cheiro de lenha de meus pulmões e narinas,
e inspiro novo ar marinho,
numa mistura de prazer juvenil,
ao maturo da efemeridade cotidiana.

Nenhum grupo de grãos de areia debaixo de meus pés é o mesmo de ontem,
nem será o mesmo amanhã.

Desde ontem, tenho algo em mim plácido,
algo em mim terno,
maternal,
que faz-me fitar o destino diferente.

Repenso incessantemente meus dias,
minha existência,
creio que algo vem ao encontro,
e temo.

Temo minha mudança,
minha reavaliação vital,
mas...
O que temer?
Porque temer?

As quadraturas já não mais me assustam,
nem os trígonos não mais me acalentam.

Algo vem,
assim como o cheiro,
algo em mim, vem novamente...

...estou pronto.

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