Frio

Hoje o Frio bateu em minha porta,

será ele ou ela?

Senti o distanciamento...

...de seu calor,
...de seu olhar,
...de suas palavras,

e náuseas do odor de seu medo.

Embora possa percebê-lo,
por reconhecer o seu padrão de ser,
ele não está em mim.

Olho-o nos olhos.

Procuro compreender, o porque ele é ou está assim,
distante em seu calor,
mas logo percebo que é apenas seu modo de agir,
embora não seja o único modo,
pois ele conhece outros modos,
o faz,
por apenas perceber para si, este,
como único modo verdadeiro de trilhar.

Não cabe a mim,
(neste momento),
evidenciar-lhe outros modos, por este ou outro caminho.

Não fui arguido para isto.

Em nossas buscas, trilhamos caminhos diferentes,
para chegar a um lugar especial para nós mesmos,
porém comum,
e nos debruçamos em questionamentos diversos,
do porque,
este, ou outros caminhos, não deram certo,
perguntamo-nos porque não chegamos lá.

E a resposta é simples, neste mar de simplicidades relativas.

O modo de trilhar é a chave da resposta.

Hei-lo, o Frio,
qual me fita de soslaio,

Ressabiado,
por olhá-lo com calma sem medo.

Furtivo nas palavras ditas e não ditas, que se lhe mostram.

Incapaz de compreender o quanto é mortal e também vulnerável.

Olho suas capacidades,
sua força, sua debilidade.

Chego bem perto de sua alma e lá encontro sua dualidade.

Dualidade de existência,
da não compreensão de sua própria jornada,
das ramificações de suas escolhas,
e do trato indelicado de seu verbo,
e seu não verbo.

Pergunto-me,
qual será a verdade mesmo.

Mas neste ínterim,
percebo minha própria expectativa,
e não devo nutrir nenhuma expectativa para com o Frio,
pois ele apenas o é,
enquanto não se descobrir,
enquanto não descobrir dentro de si a chama,
enquanto não descobrir a complementaridade das coisas.

Posso envolve-lo, aquecê-lo,
e derreter sua capa, até que apareça,
a chama,
mas ele não verá esta,
pois o mesmo, não mais existirá para poder vê-la.

Não é uma questão de ver apenas, mas senti-la,
Assim como sinto e vejo em minh'alma, o frio em mim.
E por sentir,
faço de minha existência uma tentativa de aquecer,
a tudo que há de frio em minha volta.

Tentando não me exceder no calor.

Como posso fazê-lo perceber?

Talvez não mostrando,
talvez dizendo que o sei,
talvez arreganhando meu peito e mostrando o que há dentro de mim,
talvez eu,
inexistindo.

Talvez ...

Eu compreendo a necessidade da temperança de meus atos.
Fazendo o melhor que posso,
para também não permitir-me congelar, por falta de calor,
nem tão pouco, matar o frio em mim,
pelo excesso.

Pois não sou dual, sou múltiplo.
Compreendo em mim a multiplicidade,
Sou frio, calor, terra, água, céu e abismo.

Como posso mostrar, que a complementaridade é a chave da existência.

Mostrar que...
apenas unidas,
todas as oposições ou complementaridades,
passam, a ser e estar.

Só posso dizer,
que estou aqui como complemento,
a quem quiser estar e ser junto,
compreendendo os momentos.

Olho-o novamente nos olhos.

Agora tépido,
com ternura,
calafrios de insatisfação tentam me cegar,
novamente,
a expectativa.

Saiba você Frio,
que não mais tenho ganas de lhe ensinar,
tu sabes, o que deves fazer,
e como.

Te espero ano a ano,
momento a momento,
até a eternidade da inexistência.

Só a ti, cabe agora o fardo da tentativa,
não mais a mim.

Nesta porta só encontrarás,
novas certezas e novas dúvidas,
não mais as antigas.

E se dela precisares e arguires,
então obterá suas respostas.

De nossa fusão,
há a possibilidade do maleável surgir,
e com ele,
novas possibilidades.

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