Ser Tecido

Há anos padeço resignado,
também de mim.

Levando pancadas com bordão,
e de todos os lados.

Parei a pensar as metafísicas das pancadas,
e dos bordões,
assumi todas,
e cuspi nenhumas.

Bordão é instrumento teso,
que sustenta,
faz valer de pé,
àqueles que querem seus atos “justos-ficados”,
contudo, não deixa de ser um apoio em pau,
e pau...
...ou quebra ou apodrece,
assim como,
assumir pseudo-metafísicas alheias.

Há ainda... (pelo menos)
...resquícios das coisas ruins dentro,
quais logo serão forâneas.

Vendo novamente aquele semblante débil,
pois, inútil, seria muita palavra para aquele ser,
sinto na goela logo enjoo,
e o impulso de derradeiramente escarrar o resquício.

Creio,
que agora o faço,
quase em ato reflexo.

Tiro de minhas entranhas,
víscera de outrem.

Ah, fosse eu coisa outra, que não eu,
seria tão fácil.

Como destrinçar algo dentro,
pode ser tão complexo?

Erro de método talvez?

Talvez...
...querer perfeição inexistente.

A perfeição está na inexistência!

Mas heis que: do monte de fio enledado,
que outrora ao chão soterrado em lama,
qual segurei uma das pontas fugíveis com toda força,
para não perdê-lo de vista,
agora jaz um novelo,
cardado, limpo e alvo.

Hei de tingi-lo,
com belas cores,
e tecê-lo,
desta feita,
pri-mo-ro-sa-men-te desafeito à perfeição.

Por momentos,
olho de modo a tentar enxergar a nova entidade,
este natus-ente,
misto de meia vida de existência,
pela proximidade,
ver é impossível,
todavia gosto do cheiro.

Cheira a chá de capim-cidreira defumado e sálvia,
salpicado de tabaco e violão.

Volto a lembrar do semblante ignóbil...
débil também era palavra demais para aquele ser.

Penso,
se apertar mais metafísica dou cabo daquele ser,
e “puff”,
passa a inexistir o ser,
e então,
chega-se a perfeição,
tanto o ser,
como o tecido.



Comentários

Vássia Silveira disse…
Que parto poético, Edu! Gostei muito. Bjs